domingo, 26 de dezembro de 2010

Saia do abismo

A vida corre mais que depressa, tantos afazeres, cobranças e obrigações.
Encargos que sobrecarregam as energias fazendo com que a vida passe mais rápida do que o tempo real.
O espaço entre viver e estar na vida se torna um abismo. Nesta busca incessante, há tropeços, desencontros, parece um caos conciliar atribuições diversas, impostas pelo homem moderno.
Exige-se tanto, vive-se o momento do “tem que”... ser bonito (a) a qualquer custo, para ser aceito , “tem que” estar impecavelmente no corpo, no bolso, na relação afetiva, no trabalho, rugas nem pensar!...
O "tem que" prevalece com o motor ligado apenas na função acelerar, sem importar a pressão interna que causa no Ser, sobrepondo o normal e ao possível ter.
Pare! Veja. O tempo não aumenta, o dia ainda tem só 24 horas, e pela lógica do equilíbrio deve ser o tempo ideal para as atividades necessárias.
E o que é necessário? Correr e seguir o tempo do “outro”, porque comumente se serve ao "outro". O outro do gênero comum domina, quando o Ser cede espaço para o Ter.
Reinvente você mesmo!
Estar consigo mesmo é estar na percepção do próprio coração, o pulsar guia a emoção o ritmo do tempo da vida.
Aquiete-se, reveja valores... Encaixe-se nas reais necessidades, reduza o fluxo, afrouxe as exigências e que “os outros” encontrem seu próprio espaço.
Viva o seu tempo com suavidade, grandeza e com excelência. O padrão de comportamento da sociedade tecnológica possibilita viver com inteligência, se dê o melhor!
Pise na grama, ame, respire fundo, abrace a você mesmo com alegria, deixe o rosto no vento, perceba o pássaro no jardim da sua casa ou no jardim da rua. Desfrute o calor do sol que aquece, observe as estrelas na noite dos apaixonados, mergulhe na luz da lua.
Viva, floresça, renove-se e seja feliz...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Amar sem rima

Hoje quero transformar tudo em poesia,
Não a que rima até porque esta não tem graça.
A rima faz tudo certinho.
Quero a emoção que solta a poesia,
Devoção que transforma a vida em desejos.
Importa amar sem tempo,
Sem a paixão que sorve tudo em um só gole.
Quero o amor que se dilui em noites estreladas,
Lua prateada engolindo o caminho,
Devolvendo a emoção lenta da viagem.
Nada de fantasia de príncipe ou princesa.
Emoção tem pensamento, sente a presença,
Os olhos fechados trazem a luz do sorriso,
Nele está o sentimento,
Meio sorriso no rosto, nos lábios.
Levita o coração, apaixona o amor,
Sensação do abraço, sem a presença,
Certeza no pensamento.
Braços aconchegam, pensamentos distantes,
Sentimento é isso, vem de dentro, do fundo!
A alegria extrapola o entendimento,
É real para quem sente.
A distância rompe hipótese e o imaginário.
Anestesia os olhos sonhadores
Absorvendo sensações que deleitam, renascem.
Não cabe fantasia nem mentira,
Encaixam todas as certezas.
Quebra o convencional.
Regra sem controle, não sabe o que diz
Nada sabe e tudo afirma.
Chega de consentimentos, aprovações.
Existe e basta!
Compreensível no abstrato,
Que os olhos ouçam e os ouvidos fiquem cegos.
O que importa a rima se amar é o começo.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Grau de humanidade

Pergunta que não quer calar. Em que grau você se encaixa? No da omissão, do que pensa que não tem nada haver com isso ou quem sabe do não é problema meu. Ando cansado (a)!
Mas, como entender e mensurar o nível de comprometimento com o outro se você nunca parou para pensar com seriedade no "que é ser realmente humano".
O que você tem feito para se aproximar o mínimo de você mesmo? Qual foi a última vez que você teve tempo e coragem para se olhar nos olhos.
Olhar nos olhos? Como fazer isso?
Cada vez que você estiver em frente ao espelho cuidando de sua aparência: sua roupa, ou quem sabe dos cabelos, da pele do rosto, qualquer detalhe.
Que bela oportunidade você tem perdido de se olhar bem nos olhos,
faça com calma e cuidado...
Assim deve ser, olhar no espelho buscar seus
olhos, penetrar sua alma. Sentir a presença companheira.
Aproveite, retorne, perceba sua companhia, caia na real!
Da concepção, do agora, sinta a presença, o calor, ouça o ritmo do coração, relaxe a respiração.
Ouça sua alma veja o quanto foi desafiada em suportar o "processo" de desenvolvimento no útero, meses de gestação, trabalho de parto, dores, sua mãe... Alegrias, tristezas, brincadeiras entre braços aconchegantes, cuidados e beijos, foram tantos e hoje sem notícias.
Mãos carinhosas, lábios doces na face, sorrisos e provocações para que a alegria aflora-se.
E por falar em alegria de viver por onde a sua? Mãos dadas com quem?
Com os amigos da escola, do jogo de futebol, das brincadeiras de meninas,
de bonecas, de mãezinha, de noiva. E o sonho de amor para sempre?
A viagem do olhar, das lembranças impossíveis de enumerar, estão aí sim, dentro de você na sua memória.
Como andam os seus valores, aqueles colocados etapa por etapa em sua vida? Ainda quer saber qual o seu grau de humanidade?
Perceba em seus olhos quantos olhares somam aos teus neste momento, porque os olhares trazem mãos, sentimentos, renúncia, gratidão, esperança, amor direcionado à você.
Ser humano é se ver no olhar do outro, do semelhante, mas esta percepção só se consegue olhando primeiro para dentro de si mesmo.
É bom encontrar-se, saudar suas ausências, substituir os abandonos, por carinho e "afeto" por você mesmo, ämar sem medida, sem pressa...`Sentir sua companhia, aconchegar seus desejos compartilhar da sua presença.
Identificar o semelhante, é tornando-se plural.
É estar em sua própria companhia, sem importar forma ou qualquer característica. O humano é o teu semelhante, igual na essência e nas incertezas, virtudes ou qualquer valor mensurável pela aparência ou adjetivo.
O humano pulsa na emoção e vibra no olhar.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Promessa de Laura

Laura plumava nas sapatilhas, no palco a alegria, outros pulos de bailarinas, rostos felizes, expectativas nos olhos, ansiedade na emoção.
Sorriso largo olhar inquieto, gira os braços delicadas mãos, nos pés as sapatilhas, a força e sua determinação.
Gestos delicados e o encontro no olhar dos pais, da plateia.
Menina ainda e tão feliz, movimentos, agora sim! Só alegria!
Contorno na dança, seus passos são realidade, cada gesto um propósito, no girar da cabeça a meiguice, nas mãos e nos pequenos dedos toda a emoção.
Uma mão para cima e a outra rasgando o ar.
O pai sorri, a mãe também ama, olhos do pais, olhos de filha...
O salto dos pés eleva as pernas projeta a alma.
A pequena bailarina é capaz de atrelar a música, a beleza, a vida.
No contorno da cintura, a leveza do sonho, na fita do cabelo a liberdade, no suave pisar o salto rodopia o movimento.
A respiração acelera, mais um salto!... Eleva o dorso, a coluna, estende os braços gira a beleza, mostra elegância.
O tempo não tem pressa ela ainda é uma menina.
Aplausos! A aventura está apenas começando e já traz elegância e técnica sobre suas sapatilhas.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O caminho pulsa.

A história começa com inquietação na alma, ora entendida como indisciplina e em algum momento pelo desejo de viver intensamente experiências, literalmente estar na vida, sem o comodismo de um beco ou de um marasmo qualquer.
Inquietação, a expressão que defini a vontade de ir além no espaço e no tempo.
Ousadia e coragem rompem limites!
O fantástico é perceber que viver é desafiar-se, é ser um buscador, com coragem para absorver a palavra: "é possível".
Este impulso de seguir em frente, brota do sentimento que pulsa e inflama o peito, sim, bem no meio do peito, transborda, tal a intensidade da energia que é gerada e culmina na única palavra que jamais faz desistir: "certeza".
Quando unem-se, vontade e certeza, produzem um dínamo propulsor e nada pode deter esta força, é ela quem sinaliza: "vai em frente, não se acomode, você é energia, haja, siga em frente".
Faça sua parte, gere sementes, escolha e prepare o solo, espalhe seus sonhos.
São seus! Pertencem a você, esqueça o que é lógico.

Quem transcende limitações já alcançou o possível!

A viagem é o caminho...

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Cheiro de bolo educa

As pedaladas vigorosas atrapalhavam as pernas, doíam tal a ansiedade. Encontrar a professora com o bolo cheiroso era o motivo da pressa.
A felicidade as uniam, a ânsia de aprender e o desejo de ensinar...
Que saudades da amada mestra, o afeto era sua principal formação, as letras o complemento. Ficou o gostar das letras, do banco da escola, do cheiro da merenda. Educadora como esta só quem traz o conhecimento no coração. Formação construída com alicerce nos laços da família, sim, porque cada um só dá o que conhece.
Para esta viagem, bagagem não vem pronta, é colocada uma a uma, com cuidado e zelo. O controle da qualidade vem da sequência de valores. O cheiro do bolo quando registrado com afeto solidifica aprendizagem para a vida.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Sentidos

Se você ler, peço que ouça.
Se ouvir sinta, feche os olhos, respire...
Ah! o ar, que traz o som dos pés da caminhada.
Lembra do atalho, daquele caminho, dos pés na areia.
O mar, a espuma da onda, que toca suave a lágrima da saudade...
Aperta sufoca, o peito dói, mas não se perde.
O encontro na perca, a volta na lágrima.
O sorriso no toque do rosto,
Afaga, acende, ilumina, arrepia...
Enlaça, enrosca a mecha do cabelo.
Dedos, aperto na nuca.
Que o tempo se acabe.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Certeza

Sentir parece fácil,
Se fórmula existisse para tal.
Como doar-se sem a transcendência?
Sentimento puro pode regenerar.
Enaltece o deleite da vida, dignifica.
Aprendizado na entrega...
No acaso a certeza,
No olhar a chegada, dor nunca mais.
Partida? Nunca a despedida!
No soltar do abraço, unem-se.
Pulsa os corações,
No calor não há despedida.
Rompe o que de dentro nunca passa...
O tempo aumenta o que sempre foi,
No recostar pulsa o coração.
Na memória o lábio no peito amado...
Olhos fechados, lábios sorrindo.
Que importa a espera.
O encontro está na certeza do tempo!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Amordacem os pessimistas

Ajudem!...
Que se cale a boca da intolerância, equivocada de compreensão, porque rasga o verbo do desespero. Quer deter os desditosos referenciados pelo maior avatar que a humanidade conheceu "Mestre Jesus".
O que contradizer a Ele perdeu o rumo, ficou no "beco sem saída". Perdeu-se da alegria, do sentido reto do sentimento, esqueceu como se "agrega".
Os esperançosos não são os que esperam para sempre, mas os que sabem o que irão encontrar.
Que se cale a palavra desprovida de alicerce no próprio rumo.
O caminho é o rumo, por ele passa os sentimentos, o foco de tudo.
Que se cale o olhar perdido, que se veja o calor do abraço, e sinta o sorriso desabrochar.
E que a partida seja o encontro, ir e vir e sempre chegar.
Que se cale o insensato desprovido do destino do coração, do alvo da meta, da paz infinita.
Que viva todo o insano da regra comum, do faz de conta, do oba oba, e que se afunde no plantio da sua própria inconsequência.
Que a lama o acorde e o remeta para a lucidez dos que encontraram a paz e o caminho...

O que vibra no peito é a alma! O resto é acaso...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Possível na ausência

Tudo é possível quando se quer, frase comum, repetida porque não dizer desgastada. Tem nexo? Se o possível pertence a nós, mas, por que afirmar que é possível e condicionar a permissão a outra pessoa.
Que coisa! Depender do outro, condicionamento que endorfina, que faz disparar o coração ao saber da possibilidade do consentimento, da presença na imaginação da ausência.
Que dane-se a dependência! Se a certeza convencer na ausência, que seja feliz, sozinha, acompanhada com a ausência.
Que espere a presença voltar, pois, esta sabe-se que por mais longe que esteja, voltará.
A presença é certa, fiel, é aquela que quando volta retorna decidida, fortalecida pelas cicatrizes do trajeto que a trouxe ao encontro do seu porto seguro.
São afins nas diferenças, uma vai a outra fica e espera. Diferentes iguais, possíveis... sempre possível!

sábado, 28 de agosto de 2010

Se eu quiser eu posso!

Posso tudo o que quiser, na força, na coragem, mas, acima de tudo se houver vontade. Vontade associada a atitude causa virada, avanço que desloca o marasmo, o atrapalho, dando alívio.
Alívio, porque se é capaz de seguir em frente abastecido por dentro, com o fundo da alma alicerçado para realizar grandes conquistas.
Somos capazes quando rompemos as barreiras das informações cravadas na memória somatizadas com os limites impostos pela covardia do não tentar.
Coragem! O tempo é pequeno para a grandiosidade da vida que espera ali fora, atrás da fechadura da porta, no movimento da coragem, na mão que é capaz de abri-la e encher o peito de ar, soltando o suspiro de vitória...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Não desista nunca...

Recomece sempre, sempre que precisar.
Não se acovarde por nada. Desaminar jamais, siga, siga em frente
a cada desabor, esqueça os desamores.
Renove os amores e sinta o quão indispensáveis se tornam.
Mas, principalmente o amor por si próprio, pela superação
diária, pela coragem de colocar-se acima das mazelas do cotidiano.
Eleve o ego do bem, que mostra os teus valores despertando
o orgulho também do bem.
Que é capaz de elevar a alma e, acima de tudo
ame incondicionalmente a você mesmo.
Apaixone-se pela coragem de abrir em cada amanhecer os olhos
e dizer: "obrigada pela minha vida".

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Fotografia das palavras

Que satisfação reencontrar o escritor catarinense, Carlos Henrique Schroeder como orientador no Laboratório de autoria "Fotografia das palavras" promovido pelo SESC-Lages/SC. Tive a satisfação de conhecê-lo no curso de Formação de escritores, que culminou no livro "Calígrafo Oriental" publicado pelo SESC/SC, uma coletânea de contos, micro contos e poemas. A Literatura também está na fotografia e possibilita para aquele que registra as imagens ser um narrador.
O narrador é aquele que coloca as palavras, emoções, sensações em movimento.
Se o narrador for engessado será um narrador morto.
Educar o olhar para ser um bom escritor e leitor e também leitor/escritor. Desenvolver potencialidades, encontrar prazer naquilo que se faz, esta é a grande descoberta do indivíduo no mundo, na vida, nos relacionamentos.
Isso faz ter a certeza de que estar na vida é resumir qualquer aventura numa frase: "SÓ FAÇA SE FOR DIVERTIDO".
Sim, faça algo que agregue valor e reforce a saúde emocional, eleve a auto estima, fazendo você se sentir um ser único e insubstituível.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A Ciência comprovando o espírito.

Confesso minha alegria ao ouvir hoje o Dr. Sérgio Felipe de Oliveira, idealizador da Uniespírito - Universidade Internacional de Ciências do Espírito (http://www.uniespirito.com.br/tv-uniespirito.php).
Homens das ciências dedicados a comprovar a existência do espírito e da presença das energias espirituais constantes e ilimitadas ao dispor dos inquietos e de boa vontade.
Felizes os inquietos e que já não se conformam em permanecer no sono dos acomodados. 04.07.2010

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Fortalecendo Valores

O homem que vive em sociedade busca constantemente encontrar-se realizar-se, trocar experiências, ser empreendedor. Mas, na paralela de suas realizações, pergunta-se: como manter sua liberdade, gozar de todas as sensações que este estado pode possibilitar?

Como permanecer livre, fazendo tudo aquilo que deseja, sem ter que dar satisfação a ninguém? Poder sair sem ter hora para voltar para casa, se divertir e fazer o que quiser?
Pergunto então, será que realmente ser livre é isto, afinal de contas sempre pensamos que precisamos de um espaço somente para nós? E como ficam as pessoas que nos cercam, aqueles que convivem conosco diariamente, que compartilham de nossas conquistas, alegrias, decepções?

Percebemos que só é realmente livre, aquele ser que conhece seus limites, suas potencialidades, que nas situações mais difíceis consegue se colocar no lugar do outro e descobre que é capaz, de amar, perdoar, sorrir sem exigir nada em troca de quem quer que seja.

Portanto, devemos nos conhecer, amar e perdoar, primeiro a nós mesmos, entender que somos responsáveis pela nossa existência, indo em busca da realização de nossos sonhos, sabendo compartilhar. Mas, que esta busca não traga prejuízo aqueles que conosco convivem, porque também somos co-participantes em suas vidas, como eles também pertencem a nossa. Muitos buscam fantasias e sabemos quão grande é a dor que elas nos causam. O homem deste novo século deve buscar em sua caminhada, resgatar e desenvolver valores éticos, morais e espirituais, e verdadeiramente será: livre, pleno, construtor e energético.

A avalanche da menina da saia florida

Vinicius, após um dia estressante de trabalho, ao abrir o jornal depara-se com aquele rosto, ao vê-lo tão próximo do seu, se dá conta de que os anos passaram tão rapidamente. Vê aquele rosto de mulher, tomando conhecimento de que ela estava na cidade para participar de um evento. Aqueles olhos foram capazes de resgatar em seu íntimo sentimentos que estiveram por anos adormecidos.
Há quanto tempo não via Yasmin? Quantas experiências ele passara no decorrer deste tempo, estudara formando-se em economia, estava casado, tinha um filho adolescente, mas aquele rosto lhe trazia uma avalanche.
Recorda que em sua juventude decidira trancar em seu coração aquele sentimento e suas lembranças, guardando a chave em algum lugar da sua memória, como forma de seguir sua vida, afinal aquele amor lhe era proibido. A vida os aproximou, descobriram afinidades solidificando uma amizade marcada por conversas intermináveis, mas o gosto pela leitura foi o que mais encantou Vinícius. Empréstimos de livros, diálogos sobre assuntos diversos, o sentido da vida, questões sociais, injustiças.
Certa vez, Vinicius falou para Yasmin, que ela tinha a capacidade de transformar assuntos complicados em algo simples, como sabia discorrer sobre questões complexas de forma suave e poética, em outros momentos defendia seus pontos de vista com veemência, sempre com brilho nos olhos mostrando sua emoção, revelando sua alma, encantando-o. Muito aprenderam sobre a vida.
Nas suas lembranças, aquele amor que descobrira ainda jovem, permanecera em seu coração, infelizmente seus destinos seguiram opostos. Anos se passaram, e Vinícius descobre que ela havia se casado, era mãe de dois filhos. Sem poder fazer nada, segue sua vida.
Acomoda-se na cadeira de seu escritório, respira fundo na esperança de se refazer da surpresa, passa a analisar a sua vida, nascera em uma família simples, onde o afeto e as condições necessárias não lhe faltaram. Não conhecera seu pai que morrera quando ainda tinha um ano de idade, encontrara em sua mãe o amor incondicional. Tornara-se um bem sucedido empresário, conquistara com muito esforço estabilidade financeira.
Sabia que sua vida não era a primavera que idealizara na juventude, suspirando profundamente, percebe que a vida passou, há quanto tempo não via aquele rosto, aquela fotografia fora capaz de reportá-lo a um tempo de poesia e encantamento.
Alonga o corpo, cruza as mãos atrás da cabeça, acomodando-se confortavelmente na cadeira, fecha os olhos, deixando-se levar pela emoção do momento. Suavemente busca dentro de si a chave que imaginara para trancar as lembranças daqueles tempos. Percebe assustado ao abrir que Yasmin permanecera lá como a menina da saia florida, que canta, faz graça quando balança a saia, sonha e acredita na vida, deseja, anseia. Graciosa com seu longo cabelo castanho escuro, o brilho nos olhos mostra seus sonhos.
Reconhece seu perfume, aquele cheiro que sentia sempre que estavam lado a lado, nunca conseguira identificar a essência, que mexia com sua alma. O cheiro entrava pelas suas narinas reportando-o ao dia em que perguntou a Yasmin - que perfume usava? Ela surpresa responde: que não usava naquele momento nenhum perfume. Surpreso se dá conta de que sua alma identificava a essência da alma de Yasmin. Assustado se deixa levar pelas lembranças.
Estavam em plena primavera, raios de sol penetravam seu corpo de modo reconfortante, sentado naquele banco na praça, sentia-se cansado após um dia de estudo, afinal estava prestes a ingressar na universidade. Acompanhando os gestos determinados daquela menina com seu longo cabelo castanho escuro, da mesma cor de seus olhos. Ah! Os olhos que sempre o fascinaram, pensava: essa menina tem força na alma. Nunca vira um ser assim, tão gracioso e determinado. O intrigante ao vê-la pela primeira vez é que seu coração sabia que ela seria para sempre o seu amor.

Olhos sábios de um cachorro

Entro no carro, saio da garagem, fecho o portão.
Paro na esquina olho para os lados, do lado esquerdo da rua dois olhos me observam.
Sim, o olhar de um cão.
Cachorro preto, com manchas acobreadas, da raça “salsichinha”.
Os olhos fixos em mim, serenos.
Olho novamente e percebo na cabeça pêlos brancos ao redor dos olhos e boca.
Aquele olhar sereno é de um cão que demonstra já ter vivido muito.
Impõe respeito, sabedoria.
Com o carro parado espero ele passar e novamente olha nos meus olhos como a me agradecer a gentileza.
Com a firmeza de quem já viveu muito, caminha a passos lentos,
Observador, pára, olha para os lados a observar se tudo está em ordem.
O movimento das pessoas na calçada, os carros a passar.
Segue calmamente e eu parada no carro a observá-lo,
Olha-me novamente,
Seus olhos nos meus refletem um velho cão sábio e cansado.
Um bom cão de rua.
Parece ser respeitado, nenhum outro cão o afronta ou perturba.
No dia seguinte, abro a janela do meu quarto, vejo o cão com o mesmo andar do dia anterior, parado na esquina, outro carro passa, ele olha, o carro passa e ele segue o seu destino.

Fundo do poço tem mola?

Alguém já perguntou se fundo do poço tem mola? Melhor, você já se sentiu no fundo do poço? Quem ainda não esteve nesta situação?
Fundo do poço retrata a sensação de buraco sem saída, de prostração, de incapacidade regada à ansiedade, prisão, desespero. Como é difícil imaginar uma saída, espera-se um milagre tal a impotência.
O que faz uma pessoa chegar ao fundo do poço? Frustrações, decepções, desencantos, desamor, traição, abandono, descaso. Mas, o mais terrível é perceber que o abandono de si próprio foi o principal causador desta tragédia na vida.
Quantos alimentam o corpo, vestem este corpo, educam e formam este corpo, tem acesso aos prazeres da carne e ao que o dinheiro pode comprar. Sem se preocuparem em alimentar a essência deste corpo que é a alma.
Sim, a alma é energia, é o dínamo que movimenta a vontade, a coragem, o ânimo. Nela habita o que de melhor possui um ser, sua capacidade de sentir o amor, a paz, a generosidade, a solidariedade, a compaixão. Somente ela é capaz de dar e receber afeto, mas, quando ela por longo tempo se deixa nutrir por sentimentos antagônicos em ambiente hostil, adoece.
Quando a alma nega-se entra em processo de autodestruição, de falência, perde o rumo sai do eixo da existência. Fundo do poço é isso vida sem rumo, sem direcionamento, abandono.
Descobrir que fundo do poço tem mola é redescobrir-se é literalmente olhar pra cima, para o alto. Impulsionar a essência da alma com a força da coragem, redimencionar propósitos, reafirmar valores, acreditar em seu potencial. Resgatar a alma é jogar fora as informações negativas recebidas, varrer o lixo interior, eliminar o negativismo a baixa autoestima, reconsiderar suas fraquezas e transformá-las em energias salutares.
É respirar fundo, encher os pulmões de ar, abastecer-se de ânimo, esticar os braços, as pernas, alongar cada músculo do corpo, expandir os ossos, mover as articulações, espichar-se longamente, sentindo a vida pulsar dentro de si. É sentir-se completamente livre das amarras, dando-se conta de que o poço ficou pequeno para tanta força e energia e que a luz é o caminho para sua felicidade, sem muletas alheias. A força de sua alma é sua mola propulsora, e mais nada pode detê-la.

O primeiro não é o último.

Acorda Larissa! Beijo no rosto. Levanta Larissa! Espreguiça-se, remexe-se nos lençóis, lembra e não acredita, é hoje. Começa hoje, meu primeiro dia de aula, coloca a mão no peito, coração aos saltos, senta na cama, levanta, abre os braços e dança no quarto. Arruma-se, veste saia com pregas azul marinho, camisa branca com botões, meias até os joelhos, branca, calça tênis azul marinho (conhecido como “conga”). Olha no espelho, escova os cabelos castanhos, curtos, sem acreditar, pensa: como estou feliz, vou para a escola, meu primeiro dia de aula, aprender a ler, escrever, sorri. Respira fundo, deixa o quarto, sem acreditar ainda.
Os irmãos sentados à mesa do café da manhã, na cozinha quentinha, fogão a lenha, o cheiro de café, pão, manteiga, geléia. Só falta você! – diz a mãe, escova os dentes.
Larissa, a mais nova das filhas (eram cinco e quatro irmãos). Corre menina, apressada, mãos dadas com a mãe, lancheira ao ombro - (dentro, café com leite, uma maçã, pão com manteiga), caderno, lápis e borracha na mão. Segue caminhando, passos firmes, determinados, sabe em seu íntimo de criança, que está emoção marcará sua vida.
Chega à escola, era mais emocionante, linda, do que poderia imaginar, a mãe puxa-a pela mão, Larissa, olhando para todos os lados da escola, jardim, flores, pensa: quantas escadas! Tropeçando se deixando levar pela mão da mãe, se aproxima da sala, observa cautelosa e pensa: como é bonita minha professora, suspira.
Recebida com um abraço, este abraço tinha afeto de professora. Cautelosa entra, olhar atento, observa cada detalhe daquela sala, quadro negro, apagador, giz (branco e colorido), babadinhos de papel colorido ao redor do quadro, mesas quadradas de madeira com quatro cadeiras (cinco mesas), armários com portas de vidro também enfeitado de papel colorido, estantes, livros de histórias, brinquedos diversos, as paredes enfeitadas com bichinhos e árvores (feitos de papel), ao lado da porta da entrada uma lixeira, cortinas brancas.
Entra, pendura a lancheira, senta-se próximo a janela que era bem grande, o sol da manhã entra pela sala, tocando seus cabelos aquecendo seus pensamentos e emoções, pensa: este é o mundo que quero na minha vida, ouvir histórias, escrever livros, onde tudo pode ser real, se eu quiser.
Vou aprender a ler e escrever! Meus colegas são estranhos, mas, o mais estranho, é que aqui na escola o mundo se abre para os que também não são estranhos. Para os que não sonham e os que apenas vivem e se descobrem sem avessos, fora do eixo, com emoção ou sem emoção nenhuma. Para os que são capazes de rolar na grama, de pisarem no chão, andarem descalços na chuva, sentindo a vida entrar pelas suas entranhas, ter sensações loucas, de chorar de raiva e rir de si mesmos. Debocharem da sorte, agradecer uma dádiva, reverenciar as dores, suas mazelas, de se arrepiarem de amor e se emocionarem com o choro de uma criança que nasce, ou do adeus no leito de morte. De rirem da própria desgraça, de serem capazes de superar todos os estágios de aprendizagem, desta aventura que é viver. Sim, aqui começa o que nunca termina.

Irrenunciável avesso

Na trama da palavra
Escrevo versos,
Afugento sonhos, distante do olhar.
Emoção teu corpo longe está.
Entranha no verbo amar,
Calor distante.
Fugia de mim e perto ficava.
Soluça meu nome repleto de amor,
Fugia de ti, pensa em mim.
Tudo era poder,
Recomeça no tropeço, se acha em mim.
Branca areia escreve meu nome.
Com tua voz o vento unia os nossos acertos.
Calmo respirava.
Assim, somos avessos, complementos,
Busca e tropeços.
No olho da noite reencontro,
Lado a lado do irrenunciável apego,
Luta e volta.
Meu calor te espera
Volta e aquece.
Aconchega, abraça, fecha os olhos e sonha.

sábado, 29 de maio de 2010

O encontro no perdido

Na esquina, dois lados da rua, dois destinos se perderam. Andar feminino, pés descalços e lágrimas no rosto. Olha o vulto masculino, sem destino, arcado, o frio do vento suprime suas dores. O asfalto devolve seus sonhos.

domingo, 23 de maio de 2010

Poema do Vazio

Que de tão vazio
nada rolou,
nada escrevi.
Passou sem deixar marcas,
notícias recados,
apenas o silëncio, o sopro do vento...