quinta-feira, 1 de julho de 2010

O primeiro não é o último.

Acorda Larissa! Beijo no rosto. Levanta Larissa! Espreguiça-se, remexe-se nos lençóis, lembra e não acredita, é hoje. Começa hoje, meu primeiro dia de aula, coloca a mão no peito, coração aos saltos, senta na cama, levanta, abre os braços e dança no quarto. Arruma-se, veste saia com pregas azul marinho, camisa branca com botões, meias até os joelhos, branca, calça tênis azul marinho (conhecido como “conga”). Olha no espelho, escova os cabelos castanhos, curtos, sem acreditar, pensa: como estou feliz, vou para a escola, meu primeiro dia de aula, aprender a ler, escrever, sorri. Respira fundo, deixa o quarto, sem acreditar ainda.
Os irmãos sentados à mesa do café da manhã, na cozinha quentinha, fogão a lenha, o cheiro de café, pão, manteiga, geléia. Só falta você! – diz a mãe, escova os dentes.
Larissa, a mais nova das filhas (eram cinco e quatro irmãos). Corre menina, apressada, mãos dadas com a mãe, lancheira ao ombro - (dentro, café com leite, uma maçã, pão com manteiga), caderno, lápis e borracha na mão. Segue caminhando, passos firmes, determinados, sabe em seu íntimo de criança, que está emoção marcará sua vida.
Chega à escola, era mais emocionante, linda, do que poderia imaginar, a mãe puxa-a pela mão, Larissa, olhando para todos os lados da escola, jardim, flores, pensa: quantas escadas! Tropeçando se deixando levar pela mão da mãe, se aproxima da sala, observa cautelosa e pensa: como é bonita minha professora, suspira.
Recebida com um abraço, este abraço tinha afeto de professora. Cautelosa entra, olhar atento, observa cada detalhe daquela sala, quadro negro, apagador, giz (branco e colorido), babadinhos de papel colorido ao redor do quadro, mesas quadradas de madeira com quatro cadeiras (cinco mesas), armários com portas de vidro também enfeitado de papel colorido, estantes, livros de histórias, brinquedos diversos, as paredes enfeitadas com bichinhos e árvores (feitos de papel), ao lado da porta da entrada uma lixeira, cortinas brancas.
Entra, pendura a lancheira, senta-se próximo a janela que era bem grande, o sol da manhã entra pela sala, tocando seus cabelos aquecendo seus pensamentos e emoções, pensa: este é o mundo que quero na minha vida, ouvir histórias, escrever livros, onde tudo pode ser real, se eu quiser.
Vou aprender a ler e escrever! Meus colegas são estranhos, mas, o mais estranho, é que aqui na escola o mundo se abre para os que também não são estranhos. Para os que não sonham e os que apenas vivem e se descobrem sem avessos, fora do eixo, com emoção ou sem emoção nenhuma. Para os que são capazes de rolar na grama, de pisarem no chão, andarem descalços na chuva, sentindo a vida entrar pelas suas entranhas, ter sensações loucas, de chorar de raiva e rir de si mesmos. Debocharem da sorte, agradecer uma dádiva, reverenciar as dores, suas mazelas, de se arrepiarem de amor e se emocionarem com o choro de uma criança que nasce, ou do adeus no leito de morte. De rirem da própria desgraça, de serem capazes de superar todos os estágios de aprendizagem, desta aventura que é viver. Sim, aqui começa o que nunca termina.

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