quinta-feira, 1 de julho de 2010

A avalanche da menina da saia florida

Vinicius, após um dia estressante de trabalho, ao abrir o jornal depara-se com aquele rosto, ao vê-lo tão próximo do seu, se dá conta de que os anos passaram tão rapidamente. Vê aquele rosto de mulher, tomando conhecimento de que ela estava na cidade para participar de um evento. Aqueles olhos foram capazes de resgatar em seu íntimo sentimentos que estiveram por anos adormecidos.
Há quanto tempo não via Yasmin? Quantas experiências ele passara no decorrer deste tempo, estudara formando-se em economia, estava casado, tinha um filho adolescente, mas aquele rosto lhe trazia uma avalanche.
Recorda que em sua juventude decidira trancar em seu coração aquele sentimento e suas lembranças, guardando a chave em algum lugar da sua memória, como forma de seguir sua vida, afinal aquele amor lhe era proibido. A vida os aproximou, descobriram afinidades solidificando uma amizade marcada por conversas intermináveis, mas o gosto pela leitura foi o que mais encantou Vinícius. Empréstimos de livros, diálogos sobre assuntos diversos, o sentido da vida, questões sociais, injustiças.
Certa vez, Vinicius falou para Yasmin, que ela tinha a capacidade de transformar assuntos complicados em algo simples, como sabia discorrer sobre questões complexas de forma suave e poética, em outros momentos defendia seus pontos de vista com veemência, sempre com brilho nos olhos mostrando sua emoção, revelando sua alma, encantando-o. Muito aprenderam sobre a vida.
Nas suas lembranças, aquele amor que descobrira ainda jovem, permanecera em seu coração, infelizmente seus destinos seguiram opostos. Anos se passaram, e Vinícius descobre que ela havia se casado, era mãe de dois filhos. Sem poder fazer nada, segue sua vida.
Acomoda-se na cadeira de seu escritório, respira fundo na esperança de se refazer da surpresa, passa a analisar a sua vida, nascera em uma família simples, onde o afeto e as condições necessárias não lhe faltaram. Não conhecera seu pai que morrera quando ainda tinha um ano de idade, encontrara em sua mãe o amor incondicional. Tornara-se um bem sucedido empresário, conquistara com muito esforço estabilidade financeira.
Sabia que sua vida não era a primavera que idealizara na juventude, suspirando profundamente, percebe que a vida passou, há quanto tempo não via aquele rosto, aquela fotografia fora capaz de reportá-lo a um tempo de poesia e encantamento.
Alonga o corpo, cruza as mãos atrás da cabeça, acomodando-se confortavelmente na cadeira, fecha os olhos, deixando-se levar pela emoção do momento. Suavemente busca dentro de si a chave que imaginara para trancar as lembranças daqueles tempos. Percebe assustado ao abrir que Yasmin permanecera lá como a menina da saia florida, que canta, faz graça quando balança a saia, sonha e acredita na vida, deseja, anseia. Graciosa com seu longo cabelo castanho escuro, o brilho nos olhos mostra seus sonhos.
Reconhece seu perfume, aquele cheiro que sentia sempre que estavam lado a lado, nunca conseguira identificar a essência, que mexia com sua alma. O cheiro entrava pelas suas narinas reportando-o ao dia em que perguntou a Yasmin - que perfume usava? Ela surpresa responde: que não usava naquele momento nenhum perfume. Surpreso se dá conta de que sua alma identificava a essência da alma de Yasmin. Assustado se deixa levar pelas lembranças.
Estavam em plena primavera, raios de sol penetravam seu corpo de modo reconfortante, sentado naquele banco na praça, sentia-se cansado após um dia de estudo, afinal estava prestes a ingressar na universidade. Acompanhando os gestos determinados daquela menina com seu longo cabelo castanho escuro, da mesma cor de seus olhos. Ah! Os olhos que sempre o fascinaram, pensava: essa menina tem força na alma. Nunca vira um ser assim, tão gracioso e determinado. O intrigante ao vê-la pela primeira vez é que seu coração sabia que ela seria para sempre o seu amor.

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